Poema para a Terra calada

 

Estendo os braços

e o mar à minha frente

tem cambiantes de loiro

e verde e castanho,

ondeando na planície

de malmequeres e papoilas,

onde as borboletas voejam

tontas

e o passaredo volteia

desenhando, no céu largo,

caminhos sem retorno.

 

Sobem odores do fundo

da terra

e descem à terra madre

sementes de futuro,

impregnados de vida,

que o sol chamará à luz,

depois que a noite adormecer

nos braços do orvalho

matinal.

 

Tanta vida silenciosa

assombra o meu olhar absorto!

Sorvo dum trago o horizonte

e de braços caídos

enlaço a vastidão de lés a lés,

embrenhando-me até aos ossos

na imensidão!

 

Um grilo canta,

uma rã coacha,

um pardal trina,

um galo cacareja,

uma ovelha bale,

um burro zurra,

um gato mia,

um cão ladra

e a terra pacata,

vivaz no seu sossego

manso,
escuta a algazarra

e redonda,

absoluta,
magestosa,

gera no seu seio de mulher

possuida

a vida que nos alimentará

até à comoção,

como se o poema

fosse o ponto de partida

para a aventura

da gratidão!

 

E se palavras forem precisas para dizer

obrigado

inventemos outra forma de o afirmar

para que cada sílaba seja

um hino, uma ode, um labéu

que cante a eterna canção dos filhos

da senhora sua mãe:


A Terra calada!

 


by Paulo César, em 22.Set.2009, pelas 22h30

 

sinto-me: inquieto
publicado por d'CD - da Clara Dias às 18:35