A caminho...
Esta é uma dedicatória a ti, Natália!
Que lágrimas poderão toldar
A alegria de sentir gratidão?
Que tristeza poderá mirrar
A felicidade expressa num sorriso?
Que solidão virá para calar
A força comovente dum abraço?
Que dor ou agrura sobrará
Na hora de entregar no teu rosto
Um beijo límpido que gritará
Como a luz da estrela à hora do sol-posto?
Levantaremos pendões de festa…
Poremos balões e grinaldas nos caminhos…
Atapetaremos de flores silvestres as veredas,
Os carreiros, os trilhos, a eira…
E derramaremos música de acordeão
Num baile iluminado pela lua cheia
Onde farão coro os grilos noctívagos
E, de quando em vez, um galo madrugador!
Faremos, com novelos de saudade
E fios de memórias vivas, um rendilhado
De sons e imagens, de pessoas e lugares,
De tempos de há muito tempo…
Talvez nos julguem velhos…
Talvez nos apelidem de provincianos…
Talvez se riam da nossa insana vontade
De querer retornar ao útero da mãe terra
E retomar nas mãos a lama dos Invernos,
A poeira dos Estios cáusticos,
A doce aragem das Primaveras verdejantes,
Ou o odor intenso dos Outonos frutados.
Talvez nos ignorem!
Sobrará a teimosia de quem acredita
E a paixão de quem ama sem preconceitos!
E a terra que nos viu nascer
E nos fez, no desconchavo dos aziagos dias,
Gente de bem-querer
Nos dará, sem nunca reclamar, as alegrias
Do regresso, como uma bênção…
E nesse dia a chuva será de pétalas
E os campos, de lés a lés,
Hão-de ter a cor rubra das papoilas
Ou a festiva brancura dos malmequeres.
Chorarei então
E derramarei em caudal a gratidão
Dos que voltam para sempre. De vez!
Riam-se à vontade!
Quem aldeão nasceu
Há-de morrer aldeão
Mesmo que a força da cidade
O adopte como seu!
by Paulo César, em 20:Jun.2009, pelas 19h30
sinto-me: grato e feliz