Está em marcha e vai acontecer...
NO DIA 2 DE JULHO DE 2011, PELAS 16H00, NO ANFITEATRO DO CAMPO GRANDE 56, EM LISBOA!
Será o lançamento do meu livro de poesia "No Chão d'Água - Poesia Líquida..."!
O meu primeiro livro!
Desde já, a todos, deixo o convite para estarem presentes! Serão bem vindos!
O convite oficial irá sair em breve e logo será publicado!
Estou a ficar em pulgas...
PC
Urze da serra (imagem obtida na net)
Deste longe vejo o que antes não via,
Estando perto…
Há cheiros no ar que só agora
Sinto
Vozes grinalda que vingaram os silêncios
Para acordar as auroras de todos os dias
Recados penitentes a trilhar caminhos
Que libertavam do purgatório
Eremitas luzeiros como archotes crentes
Que sinalizavam os sentimentos
Separando o trigo do joio
Soluços de aragem que sacudiam as copas
Esguias arremetendo ao azul
Líquidos húmus escorrendo das crostas
Como sangue de regras
Sibilinos sons de amálgama ou caldo
Que se fundem em oratórias de graças
Medo e superstições, unguentos e preces,
Fé viril e força angelical
Faces vítreas onde se espelham as almas
Que trazem gente em cada despojo
Trago carreiros suspensos na solidão
Das memórias
E retratos de fogo talhados na urgência
Do retorno ao chão
Para sentir-me quinhão!
Que nome te darei, saudade?
Em 05.dez.2010
M A C
Busco para além dos passos
Lentos
A frescura das hortas
Quando as regadeiras eram levadas
De água em cacho
A correr entre cômoros de terra
Adubada pelo suor
Dos corpos fartos de labuta
E no cimo das nogueiras altas
Os melros vinham esperar o momento
De dessedentar os bicos negros
E as penas lustrosas.
Busco para além das memórias
Intermitentes
O martelar sibilino do travão
Das noras
Quando o engenho de alcatruzes
Trazia do fundo do poço
A água fresca escorreita
Que lançava no lastro do tanque
Fundo dos banhos estivais
Enquanto o jumento de olhos vendados
Se esforçava na tarefa de curar
A sede dos couvais viçosos.
Busco o rumor da fadiga
No aluvião das cantigas morenas
Ao cair das tardes
Quando os carreiros eram estradas
Largas de alvoroços
E os namorados se davam as mãos
Em silêncio
Para dizer calados do amor
E das canseiras
Com olhos mais fundos que o longe
E lábios mais secos que a espera
Dum beijo roubado de fugida.
Desato o nó da solidão que é
Saudade e martírio
E penduro no cocuruto das estrelas
Ao rés da lua cheia
Os vaga-lumes mentirosos
Que prometiam um tostão
Quando faltava o pão
E traziam luz às noites de calma
Quando as soleiras das portas eram o palco inteiro
De estórias com enredos mágicos
Onde os homens eram gente boa
E as mulheres mães e avós muito belas!
Se uma lágrima vier
Há-de bater primeiro
Que assim são as lágrimas educadas!
Lágrimas de quem olha e sente
Que as amoras colhidas nos silvados
Já não têm o sabor de então;
Os silvados venceram o medo
E galgaram por cima dos carreiros velhos!
Como as hortas se entregaram aos canaviais
Das margens dos ribeiros sazonais,
Talvez enamoradas pela frescura da sombra…
E os melros já não esperam o tempo
De molhar o bico…
Nas planícies e nos planaltos,
Nos recantos e nas largas quintas,
Já não se ouvem os burros zurrar
A sede e o cansaço da nora velha!
A nora morreu na podridão do abandono
E os burros adormeceram na inércia
Dos extintos
Como animais sem história
Ainda que personagens de estórias nem sempre
Felizes e valorosas.
Os homens e/imigraram para a selva
E as mulheres construíram lares em socalcos
Sobrepostos, com janelas para o nunca.
Rezam as crónicas de pouco entendimento
Que o campo tem outras virtudes
E outras aptidões…
De facto… Quando no lugar do trigo nasce o cardo
E no lugar da horta cresce o silvado,
Que colheita obteremos do nosso desapego,
Que não seja a negação do chão
Donde nos vem a vida?
E se negamos a vida
Que fazemos vivos
Neste viver enfadonho?
Em 08.Jul.2010, pelas 15h45
já não sei os carreiros
os silvados
as hortas
perdi os ninhos dos pássaros
os bandos voláteis
os trinados
esqueci a canícula
o frio gélido
a chuva agreste
olvidei os cantares genuinos
o labor dos braços
a crueza da faina
só não deixei de te amar
terra
mãe
matriz
e apetece-me tanto
sentir o cheiro a feno
que sobra
quando as trovoadas
de agosto ribombam
ferindo o espaço
e os feixes felinos
dos relâmpagos faiscantes
desenham no céu pardo
aguarelas abstractas
que amedrontam
e espantam
Em Abr.2010, pelas 22h15
Imagem: Google
Lembrei-me da urze
porque me lembrei da serra
dos montes e vales
do ar puro e das pedras rudes
dos coelhos bravos e das borboletas
dos carreiros estreitos e do mato denso
de pequenas fontes de fios cristalinos
e de poças eternas guardiãs da chuva
que dessedentava as gargantas secas
no pico do verão.
Lembrei-me da urze
porque me acudiu a memória
dos pinheirais zoando
à passagem do vento norte
da caruma seca e das pinhas
do odor intenso a resina
e dos cogumelos alapados
irrompendo do humus
da terra areenta.
Lembrei-me da urze
porque me invadiu o ribeiro
as rãs coachando
as lagartixas fura vidas
as cobras e os lagartos langorosos
as formigas rabinas
na lufa-lufa duma azáfama
sem horário nem escala
as libélulas elegantes
numa dança imortal de tão leve.
Lembrei-me da urze
e por ela acabei por me alcandorar
aos cumes do tempo descalço
dos risos desdentados
dos calções passajados e puidos
das mãos e dos corpos tisnados
dos sons naturais da terra e da gente
dos dias prenhes de esforço
e das noites silenciosas de descanso
Lembrei-me da urze...
e de tudo o que puxado o fio
se desata sem nós cegos
num mundo de doce e amargo
de luz e sombras
de risos e lágrimas
de ficar quedo e nunca parar
de amar
com despudor e orgulho
o que se ama apenas porque sim.
Em 02.Nov.2009, pelas 19h30
Imagem: Google
Escondo-me nas palavras como se amassase pão, como se colhesse flores, como se plantasse espantalhos na cercadura da seara, como se esperasse um dia novo amanhã!
Doiem-me os teus olhos que não tenho, as tuas mãos que foram embora, o teu sorriso como construção do sonho, o teu afago, ternurento, como arco-íris dos sentimentos indefinidos! À míngua de ti invento até a dor, a saudade, a angústia, cedendo à pressa de te ter de novo para regenerar as horas e semear os dias de cores simplesmente vivas.
O mar das remotas imagens balança numa maré alta por dentro de mim. E a praia tem estranhas nuances quando a tua ausência se faz presente. Esqueço-me do que me rodeia! Vivo a dor como se fora verdadeira e aplaco-a somente quando na hora do sono adormeço ao som da tua voz que me fala suave e macia na textura da almofada. Adormeço feliz e espanto a dor como se fora miragem, para viver apenas aquele momento nosso - que tu estás mesmo não estando!
E assim liberto enxergo longe o que está por dentro de mim:
- Um claro sol e tanta aurora...
by Paulo César, em 20.Out.2009, pelas 20h00
Estendo os braços e o mar à minha frente tem cambiantes de loiro e verde e castanho, ondeando na planície de malmequeres e papoilas, onde as borboletas voejam tontas e o passaredo volteia
desenhando, no céu largo, caminhos sem retorno. Sobem odores do fundo da terra e descem à terra madre sementes de futuro, impregnados de vida, que o sol chamará à luz, depois que a noite adormecer nos braços do orvalho
Tanta vida silenciosa
assombra o meu olhar absorto!
Sorvo dum trago o horizonte
e de braços caídos
enlaço a vastidão de lés a lés,
embrenhando-me até aos ossos
na imensidão!
Um grilo canta,
uma rã coacha,
um pardal trina,
um galo cacareja,
uma ovelha bale,
um burro zurra,
um gato mia,
um cão ladra
e a terra pacata,
vivaz no seu sossego
e redonda,
gera no seu seio de mulher
a vida que nos alimentará
até à comoção,
como se o poema
fosse o ponto de partida
para a aventura
da gratidão!
E se palavras forem precisas para dizer
inventemos outra forma de o afirmar
para que cada sílaba seja
um hino, uma ode, um labéu
que cante a eterna canção dos filhos
da senhora sua mãe:
A Terra calada!
by Paulo César, em 22.Set.2009, pelas 22h30